quarta-feira, 9 de maio de 2012

MONCHIQUE (DUAS RARIDADES ARQUEOLÓGICAS)

                   Duas Raridades Arqueológicas

1ª – UM BOCADO DE TECIDO PRÉ-HISTÓRICO :

Passavam poucos meses sobre as importantes escavações na necrópole do Buço Preto e já José Formosinho e Abel Viana, agora também acompanhados por O. da Veiga Ferreira, se debruçavam sobre outra necrópole que consideraram muito mais importante e a que deram o  nome de “PALMEIRA” (nome do local onde se encontra) e que se situa a cerca de 500 metros para NNW das Caldas de Monchique.    Aliás afirmam mesmo que excluindo a estação de Alcalar é esta a estação que contém maior número de túmulos.

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Vai ser porém noutra necrópole mais pequena, a da “BELLE FRANCE” (assim chamada por ser pertença de um cidadão francês) que descobrirão uma verdadeira relíquia – um fragmento de tecido - desses tempos remotos em que, pelos vistos, já se tecia e muito bem ! (Ver pagª 15, Figª 29)

Fragmento de tecido que embrulhava de maneira meticulosa um machado de bronze (pagª 15, Figª 30) que sendo do tipo primordial destes utensílios de bronze, deve pertencer ao bronze inicial, aliás de acordo com Julio Martinez Santa Olalla, in Cuadernos de Historia Primitiva, Ano I, nº 1, Madrid, 1946 .

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2º – UMA NAVALHA DE BARBEAR DA IDADE DO BRONZE :

Já em Setembro de 1947, nas Caldas de Monchique nas obras de captagem das novas instalações termais (que então lá se realizavam), nos entulhos do barranco das Caldas de Monchique, perto da Fonte da Pancada nº 2, e que como simples entulho fora recolhida,  foi achada uma navalha de barbear da Idade do Bronze , objecto que, parece, nunca tinha sido encontrado no nosso País. 

Tanto na forma como no tamanho aproxima-se muito do nº 1 da Serra de Burgos”.

Destes utensílios de barbeio, dizem os autores, se ocupa Santa-Olalla, in “Actas y Memorias de la Sociedad Española de Antropologia, Etnografia y Prehistoria, Tomo XVII, pp.127 a 164, Madrid, 1942.    Aliás já no Egipto, no Egeu e outros locais se tinham usado navalhas de sílex e de obsidiana.

 

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Para além de da apresentação de uma série de esquemas e túmulos portugueses econtrados nas Caldas de Monchique, comparando-os com os de Alcalar

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e com os de túmulos espanhóis (segundo Georg Leisner e Alberto del Castillo)

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compara também vários tecidos de lã e de esparto encontrados em diversos túmulos no estrangeiro, com o fragmento de tecido encontrado nas Caldas de Monchique e respectivo machado de bronze que o tecido embrulhava (pagª 15, Figs. 29 e 30),

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assim como os diversos tipos de navalhas

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Seguiremos, se Deus quiser, para os “RESTOS DE CAMINHOS ROMANOS NAS CALDAS DE MONCHIQUE”, obra também publicada em 1948 e que julgo de igual interesse.

 

 

 

 

 

 

 

 

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terça-feira, 8 de maio de 2012

MONCHIQUE (A SUA ARQUEOLOGIA PRÉ-HISTÓRICA)

I – A SERRA DE MONCHIQUE
Simultaneamente com as escavações de ABICADA, resolveu o Dr. Formosinho iniciar, com maior profundidade, pesquisas arqueológicas no Concelho de Monchique, prolongando as habituais estadias, para tratamento e alívio das suas queixas de reumatismo nas Caldas de Monchique e onde tinha, nos diversos trabalhadores do campo, bons amigos informadores do que se passava na região. 
Disto nos dão relato  o Dr. Formosinho e o seu companheiro e grande Amigo Prof. Abel Viana, então também Director do Museu de Beja, na Revista ETHNOS,  revista do Instituto Português de Arqueologia e Etnografia, (subsidiada pelo Instituto para a Alta Cultura),  em 1942:
                                                                  ETHNOS-0001
Estas pesquisas efectuaram-se, porém, no ano de 1937, em MAIO, JUNHO e JULHO e portanto em plena euforia dos trabalhos da descoberta que o Dr. Formosinho  fizera na ABICADA.
Recorde-se que foi neste mesmo ano, de 1937, de 26 a 29 de DEZEMBRO, que foram efectuados os trabalhos de limpeza e extracção de mosaicos na ABICADA como se pode ver neste mesmo blogue, em “ABICADA – a sucessão das descobertas” :
No dia 26 - limpeza do local e preparativo para a extracção do mosaico que se iniciou em 27 pelo compartimento A. Estava já bastante deteriorado, conseguindo-se apurar dois cantos um a Nascente (M) e outro a Poente (Ab), ambos com muitas falhas. Em (A a) formaram-se 8 blocos e em (Ab) 7 blocos, estes muito deteriorados e talvez seja difícil o seu aproveitamento em conjunto, O mosaico do compartimento B deixou-se no local por não ter grande interesse e para a hipótese de organização ali de uma estação de estudo. Do compartimento C extraiu-se apenas uma parte por se repetir o motivo e não valer a pena retirar mais; formaram-se 10 blocos pequenos para facilitar a extracção”.
Era portanto necessário andar de um lado para o outro, tudo isto sem automóvel, deslocando-se de transportes públicos, ou de carreta de bois, ou de burro . . .
Na figura seguinte está indicado o esquema que fixa a zona da Serra de Monchique a que respeita esta jornada exploratória de algumas sepulturas pré-históricas,  
Serra de Monchique       Se algumas das sepulturas estavam devassadas, outras porém originaram frutuosa exploração como a seguir se vai ver.
Estácio da Veiga nas suas “Antiguidades Monumentais do Algarve” (“Carta arqueológica” – Vol.I, pagª  99 e II, pagª 326) indica somente quatro pontos, Marmelete, Fóia, Monchique e Picota,  como contendo monumentos ou em que alcançou materiais: Fóia – antas ou dolmens que provavelmente existiram sobre o solo, instrumentos  neolíticos isolados e da idade do bronze; Marmelete -  instrumentos neolíticos isolados; Cruz da Picota – sepultura com incineração da idade do bronze.
    Ethnos pag-371

II-AS SEPULTURAS E OS DIVERSOS ACHADOS :
RencôvoSítio a cerca de dois quilómetros a Norte das Caldas de Monchique :

As sepulturas- I Rencôvo pg 372          Rencôvo-cont. pag-373      

Mirante da Mata – Sítio a algumas centenas de metros para Nascente das Caldas de Monchique :

II Mirante da Mata pag-374       Ethnos-pag.375

Buço Preto – Mais para Nascente das Caldas de Monchique, adiante do Mirante da Mata acha-se um morro de  vasta lomba que pertence ao sítio denominado Esgaravatadoiro que se estende nas faldas da Picota, desde a “Belle France”, a Poente até cerca de cinco quilómetros para Nascente.  Uma das pequenas elevações de terreno xisto-argiloso é o denominado Buço Preto no cimo do qual se encontram dois túmulos :

III-Buço Preto - pag 376      Ethnos - pag.377     Ethnos pag-378   IV-Vagarosa  pag-379

Vagarosa – A algumas centenas de metros para Sul do Mirante da Mata há um sítio denominado Vagarosa.  Não foi encontrado qualquer achado relativo às sepulturas que, aliás,  tinham sido violadas pelo dono do terreno.

Casinha da Moura – existente no sítio da Ladeira Formosa (propriedade chamada Vale do Ruivo), a Sul das Caldas de Monchique. É uma cista desde há muito violada,
V-Casinha da Moura-pag 380  

IV – AS SEPULTURAS DE BUÇO PRETO :
As duas sepulturas encontradas no Buço Preto (Caldas de Monchique) são de grande interesse para o estudo da Época Neolitica por serem inteiramente diferentes do sistema de enterramento até agora verificado, como pertencente àquela época :

Fig.12- pag 383    Ethnos-pag384      Arq. pré-histórica - algumas fotos   Ethnos-pag 386

Ethnos-pag 386 Vº        Ethnos- pag 387     Ethnos -pag 388      FIM - pag 389

Aqui fica o registo de alguns dos primeiros trabalhos do Dr. Formosinho em Monchique e do consequente aumento do espólio arqueológico do Museu Regional de Lagos.   
Mais tarde a estes dois Amigos, juntar-se-á o Engenheiro Veiga Ferreira, a quem, colocado nas Caldas de Monchique em Serviço Profissional dos Serviços Geológicos e de Minas, o Dr. Formosinho conseguiu meter o “vício por estas coisas” da arqueologia.
Continuaremos, se Deus o permitir, a mostrar os novos estudos arqueológicos que estes três SENHORES  produziram em Monchique !