segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Rebuço


O «REBUÇO» não é, como muita gente julga, um trajo exclusivamente algarvio. Foi porém, o Algarve a última província de Portugal continental onde até há poucos anos se via com frequência.

Os abusos a que se prestava, levaram o Governador Civil Júlio Lourenço Pinto a proibi-lo oficialmente em edital de 28 de Setembro de 1892; apesar disso, o seu uso continuou em algumas terras do Algarve e em Olhão ainda às vezes surge à hora da missa dominical. Nos Açores ainda boje é de uso corrente.

Costuma confundir se «rebuço» com «bioco», como sinónimos; ambos formavam realmente uma espécie de capuz ou «côca» que, tapando a cara, deixava apenas uma estreita rótula em bico. para ver; esta fresta era manobrada com os dedos que lhe davam a direcção desejada.

O «rebuço» era feito com um capote comprido com cabeção, ao qual se dava uma volta habilidosa por cima da cabeça. Ao passo que o «bioco» ou «biúco» como se lhe chama geralmente aqui no Algarve, era formado por um lenço grande, de pano mais ou menos rijo, segurado por um xaile forte e pesado na parte que sobrepunha os ombros e pes|coço.

O uso tornou-se em abuso a tal ponto que foi preciso proibir o seu emprego. Em 1626 uma carta régia proibiu às mulheres andarem embuçadas pelas ruas Às mulheres nobres não fizeram caso e o abuso generalizou-se, sendo necessária nova disposição legal. Em 11 de Agosto de 1649 outra carta régia diz: «Que nenhuma mulher possa trazer chapéu com manto, andar embuçada ou usar de capa com rebuço pelas ruas, nem assistir nesse trajo a festas de Igreja». Não foram porém suficientes estas proibições para acabar com a tradição que chegou até nossos dias e ainda hoje no Algarve, surge um ou outro «biúco».

in Revista Costa de Oiro nº 58 - Out 1939

ALBUM ALGARVIO