sexta-feira, 28 de maio de 2010

ABICADA - Epílogo

Como mais vale uma fotografia que mil palavras, aqui se deixam algumas fotos, que bem ilustram o que hoje poderia ser, como o Dr. José Formosinho sonhou, uma importante estação de estudo da época romana :

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O primeiro mosaico destapado na Abicada

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Vista geral a meio das escavações

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Planta das ruínas romanas da Abicada (a quando da abrupta interrupção dos trabalhos)

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Vistas parciais de alguns dos mosaicos das divisões definidas na planta

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Os “tanques de salga” (posteriormente destruídos pelos donos do terreno)

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O Dr. Formosinho durante a sua campanha de escavações na Abicada

Exemplos de alguns dos mosaicos descobertos na Abicada

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Pode certamente perceber-se, agora melhor, a preocupação do Dr. Formosinho com o atraso da qualificação de monumento arqueológico nacional e a consequente e progressiva deterioração (por destruição e roubo de material) observada nas ruínas, à medida que o tempo passava.

Infelizmente e qualquer que seja o sistema político que esteja em vigor em Portugal, o relaxamento nacional e certos interesses mesquinhos sempre fizeram valer as suas leis. Repare-se então na seguinte “maravilha” de sequência :

  1. DEZ/ 1935 : documento do Dr. Formosinho para o Director-Geral dos Monumentos Nacionais a pedir que o problema da “Abicada” seja considerado pelas instância nacionais com a maior urgência possível afim de poderem ser salvos os lindos mosaicos já descobertos;
  2. JAN/ 1937 : ofício da D-G dos Edifícios e Monumentos Nacionais informando da nomeação de um Arquitecto Director que, na primeira oportunidade, virá à região tratar do assunto;
  3. SET/ 1937 : carta do Dr. Formosinho a perguntar se deve voltar a tapar os chãos já descobertos, para evitar “que o inverno pudesse prejudicar o salva-mento de tão precioso documento da época romana” ao que obtém como resposta que “as obras a realizar na Estação Arqueológica da Abicada serão iniciadas logo que o Exmº.Snr.Director do Monumentos Nacionais regresse da sua viagem de estudo ao estrangeiro”;
  4. NOV/ 1937 : carta para a Delegação dos Monumentos Nacionais em Évora em que o Dr. Formosinho se lamenta pelo estado de deterioração em que encontrou os lindos mosaicos que desde havia dois anos vinha pretendendo salvar;
  5. SET/ 1938 : carta em que o Dr. Formosinho relata a verificação da destruição de dois mosaicos e em que diz iniciar uma nova exploração para procurar outros, uma vez que os vestígios das construções se prolongavam; afirma ainda que “Conímbriga tem uma área talvez 20 vezes a que está, por enquanto,explorada na Abicada. Mas não tem a profusão de mosaicos aqui encontrados”;
  6. OUT/ 1938 : ofício da D-G-do Ensino Superior e das Belas Artes informando que o D-G julga que a estação merece classificação pelo que vai “fazer imediatamente a respectiva proposta à Junta Nacional de Educação; e esta, segundo a norma seguida, escolherá um delegado que visitará a estação e dará parecer sôbre a minha proposta”;
  7. DEZ/ 1938 : Vinda do Dr. Manuel Heleno, como delegado prometido, pelo D-G, para fazer o parecer;
  8. MAI/ 1940 : dado o parecer pelo Dr. Manuel Heleno;(2 anos depois !!!)
  9. SET/ 1940 : classificação da ABICADA pelo Decº-Lei 30.762 de 26 de Setembro de 1940 ;
  10. NOTE-SE ENTRETANTO QUE ESTA CLASSIFICAÇÃO EM NADA ALTEROU A SITUAÇÃO DA ABICADA ;
  11. AGO/ 1943 : revogação da classificação (3 anos depois ??? !!!) pelo Decº-Lei 32.973 de 18 de Agosto de 1943 ;
  12. JAN/ 1944 : resposta da Repartição do Património da D-G da Fazenda Pública, do Ministério das Finanças a um ofício do Dr. Formosinho de 18 de Novembro de 1940 (4 anos depois!)

Apresentam-se de seguida vários fac-símiles de alguns dos ofícios trocados entre o Dr. Formosinho e várias entidades públicas, ainda e sempre sobre uma, tão desejada como hipotética, consolidação das ruínas romanas da Abicada.

Chama-se, entretanto, a atenção do leitor para os dois últimos fac-símiles que correspondem ao verso e reverso de um ofício resposta do Dr. Formosinho para o Director-Geral da Fazenda Pública, em 17 de Abril de 1945 iam dez anos de uma luta inglória para tentar salvar um riquíssimo e insubstituível património cultural de Portugal !

No reverso pode ler-se: “ Eu porém, não devo mais pensar na Abicada : um dos maiores desgostos da minha vida foi tê-la descoberto.”

Infelizmente o Dr. José Formosinho tinha razão !

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