quarta-feira, 16 de setembro de 2009

MIGALHAS DE HISTÓRIA NOSSA TERRA - II


Migalhas de História da Nossa Terra II

ONDE FOI LACCOBRIGA

Pelo Dr. José Formosinho


Sem a mínima pretensão de dizer sobre o assunto a última palavra, tentaremos descobrir onde Laccobriga teve a sua fundação. Tarefa muito difícil, visto que este aspecto da sua história foi desprezado pelos antigos historiadores. Será por isso muito incompleto este nosso trabalho, mas poderá servir de base séria a quem com mais competência o queira ou possa desenvolver.

Remontemos a tempos mais primitivos. Transporte-mo-nos a essa época em que os povos abandonando o seu viver nómada começaram a fixar-se e já sabiam construir as suas habitações e núcleos de defesa.

Onde iniciaram essas construções? Nas alturas(l); não só por melhor avistarem o inimigo a distância, mas porque, tornando mais difícil o acesso, facilitavam a defesa.

Daí a proveniência dos CASTROS ou CRASTOS que nos aparecem desde a proto-história.

O CASTRO, embora o seu nome seja derivado do latim (?), não foi inovação trazida pelos Romanos. É raríssimo o Castro de feição romana que não assenta sobre outro Castro mais antigo, de carácter peninsular.

O CASTRO (BRIGA na língua dos Celtas) era uma espécie de acrópole, onde os habitantes da região se acolhiam para conjuntamente se defenderem, em face de uma invasão inimiga ou ataque de qualquer tríbu das vizinhanças.

E bem necessária era a existência desses redutos defensivos, em virtude da falta de paz e segurança que os textos clássicos afirmam haver nessa época, na região a que, por efeito de uma divisão política no tempo de Augusto, se convencionou denominar Lusitânia.

Foi este o fim inicial do Castro, que com o desenvolvimento das populações circunvizinhas, se tornava o núcleo de uma povoação permanente. Seria de início formado por uma rude muralha de panos de barro e pedra «sine calcis linimento» (2).

Mais tarde ou os próprios indígenas foram aperfeiçoando esses muros, ou povos invasores os destruíram para construir mais fortes muralhas, conforme as necessidades de defesa exigiam. Por isso, de muitos deles não existem vestígios.

No nosso País temos ainda belos exemplares de Castros pré-romanos, embora alguns com indícios de influências posteriores. São seus principais núcleos as regiões de Entre-Douro e Minho, Trás-os-Montes e Alto Alentejo: «Sabroso» (3), Citânia de Briteiros (3), Monte de Santa Luzia (4), Santa Olaia (5), Castro de Avelãs (6), etc, etc. (7).

Poucos, porém, conservaram intactos os vestígios das primitivas construções rastrejas, que tão preciosos elementos de estudo nos fornecem

No Algarve não sei que exista qualquer exemplar. Pena é, pois seria muito interessante podermos fazer a comparação da diversidade de culturas com as do Norte e Centro, bem como da influência exercida pelos povos invasores nas diversas regiões.

Poderemos no entanto afirmar, sem receio ; que como no Norte e no Centro do País, também no Algarve os primeiros núcleos de população fixa, foram os Castros.

Assente que o Paul não podia satisfazer às exigências, hoje absolutamente provadas, para que qualquer povo daquele tempo iniciasse a fundação de um povoado; assente (que Laccobriga é indubitavelmente pré-romana (8) e mesmo anterior à época Cartaginesa, como o seu próprio nome o confirma pela terminação BRIGA; vejamos, por deduções, qual o local que mais probabilidades possuí para ter sido o preferido para a fundação de uma Cidade que a História de Portugal tem que recordar a cada passo, pelo papel importante que por vezes representa.

Estácio, da Veiga, um dos mais sábios escritores que dedicaram um pouco de atenção a este estudo, diz-nos (2) que muitos teem sido os sítios indicados para localizar Laccobriga: Paul, Fonte Coberta, Serro das Amendoeiras, Jardim, Serro do Lago, Sargaçal, Figueiral da Misericórdia, Monte Molião e interior da Cidade.

(Continua)

(1) Dr. Leite de Vasconcelos — «Religiões da Lusitânia» Volume. I pág. 57, Volume II pag 79.

Dr. Mendes Correia — «Os Povos Primitivos da Luzitania» pág. 269 e seg. e outros.

(2) Alexandre Herculano — «História de Portugal» —III pág. 294 J Ramon Mélida — «Arqueologia Espanola» — pág. 75

(3) Dr. Martins Sarmento — (Estudo muito desenvolvido nos vários vol. da «Revista de Guimarães») e outros.

(4) Dr, Alves Pereira — «Habitações Castrejas do Norte de Portugal», in «Estudos do Alto Minho» —fascículo XIV.

(5) Dr. Santos Rocha — PORTUGÁLIA — Vol. II pág 320.

(6) Nery Delgado — Reconhecimento científico de S.° Adrião. Borges de Figueiredo — Revista Arqueológica — / pág. 85.

(7) Arqueólogo Português (em quási todos os volumes)

(8) vários Autores gregos e latinos a ela se referem - ESTRABÃO — Geografia III, 1, 6. PTOLEMEU — Geografia II, V, 5. —POMPONIO MELA — Di situ orbis — L° III Cap I. — PLÍNIO —Naturalis Historia — IV,ll3 e outros—Dr. Leite de Vasconcelos — Rel. Luzitania—-II pág. 59,73.— Dr. Adolf Schulten —Fontes Hispaniae Antique — passim.

(9) Arqueólogo Português— Vol. XV pag. 221


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